• Pesquisar:

http://imrdsoacha.gov.co/silvitra-120mg-qrms




Sistema viário é protagonista nas mortes

Máquina, via e condutor precisam contribuir para que o ambiente seja o mais seguro possível para todos

Artigo publicado pelo Senado na revista « Em discussão », em número especial, com título « Explosão de motos e mortes » de Novembro 2012 (página 42).

Sistema_viario_e_protagonista_nas_mortes-fig01

A questão da segurança nas ruas e estradas é um trinômio de difícil integração. Máquina, via e condutor precisam contribuir para que o ambiente seja o mais seguro possível para todos, incluindo as partes ainda mais frágeis nesta equação, os pedestres.

“A máquina tem que ser utilizada em perfeitas condições, respeitando o meio ambiente, com emissão de poluentes controlada. A via precisa estar sinalizada, fiscalizada e em condições adequadas. O homem precisa no mínimo de habilitação, tem de estar consciente do seu papel, utilizar equipamentos de segurança e respeitar as leis de trânsito”, ensina José Eduardo Gonçalves, diretor-executivo da Abraciclo.

A realidade, porém, é muito diversa. Vias mal conservadas e pessimamente planejadas acolhem um número além do razoável de veículos, conduzidos muitas vezes de forma inadequada e não raramente irresponsável. Experiências em metrópoles brasileiras têm comprovado que intervenções no sistema viário são capazes de melhorar a fluidez do tráfego e reduzir o número de acidentes e mortes no trânsito.

 

Intervenções diretas

A Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) da cidade de São Paulo revela que a criação de faixas exclusivas para motocicletas nos corredores Avenida Sumaré/Paulo VI e Avenida Vergueiro/Liberdade contribuiu para a queda dos óbitos. Da mesma forma, a proibição de circulação de motos em uma das três pistas da Marginal Tietê reduziu os acidentes em 35% em um ano. Já a redução da velocidade máxima de 70 km/h para 60 km/h representou uma queda de 22% nos acidentes com motocicletas no eixo Norte/Sul da via.

O mesmo estudo mostrou como o uso do sistema viário pode ser fator preponderante no aumento das mortes. A combinação de três fatores muito comuns ao trânsito paulistano —vias congestionadas, despreparo da fiscalização e aumento da frota de motos — incentiva os motociclistas a conduzir entre os veículos, no corredor entre os carros. E esse comportamento respondeu, em 2010, por 35% dos acidentes fatais com motocicletas, como relatou a chefe da Assessoria da Superintendência de Segurança de Trânsito da CET, Heloísa Martins, durante o Congresso Internacional de Trânsito de 2012, realizado em Porto Alegre.

Rodrigo Carlos Ferreira da Silva, consultor da diretoria do Sindimoto-SP, concorda que as motofaixas e os corredores exclusivos são uma das ferramentas para a redução dos acidentes. “É bastante importante separar as motocicletas dos carros. São Paulo é a única cidade no país a criar motofaixas. Temos duas. A moto anda entre os carros, então, é preciso sinalizar esse tráfego. Estamos trabalhando junto com a CNT [Confederação Nacional do Transporte] em estudos para que haja vários corredores virtuais na cidade”, informou.

Sistema_viario_e_protagonista_nas_mortes-fig02

No estudo Mortos e Feridos sobre Duas Rodas, Eduardo Biavati alerta que a combinação de altos volumes de tráfego, problemas físicos e falta de fiscalização sistemática amplia a insegurança e os conflitos nas pistas, o que se reflete no número de acidentes.

 

Vias muito perigosas

As avenidas que ligam as periferias aos centros das metrópoles figuram, segundo Biavati, entre as mais perigosas para os motociclistas, indicativo de que problemas específicos existem nesse tipo de via, desde erros de geometria (traçado sinuoso, descontinuidade na largura das pistas e passeios, trechos com muita declividade) até falhas na manutenção do pavimento e sinalização, passando por uma presença menor de fiscais de trânsito.

“Muitas dessas vias também apresentam altos índices de acidentes entre veículos e atropelamentos. A maior parte dessas vias constitui a única rota de acesso a extensas regiões residenciais de renda média e baixa, onde a rede viária é formada por ruas estreitas e de pequena extensão. Por esse motivo, essas vias principais concentram necessariamente grandes volumes de veículos, todas as linhas de ônibus e o transporte de carga”, destacou o especialista.

Sistema_viario_e_protagonista_nas_mortes-fig03

O pesquisador da Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina do Trabalho (Fundacentro), Eugênio Paceli Hatem Diniz, mestre em Engenharia da Produção, listou problemas comuns ao sistema viário brasileiro — avenidas com poucos pontos de retorno, faixas de circulação estreitas e vagas de estacionamentos insuficientes. Para ele, medidas simples poderiam ser implementadas e trariam resultados quase imediatos na segurança de carros e motocicletas, como minirrotatórias nos retornos e tinta não escorregadia na pintura de faixas. Entre os projetos sobre trânsito em discussão no Senado, um deles defende a necessidade de mudança nos guard rails, que costumam causar ferimentos fatais nos motociclistas em caso de queda (leia mais sobre as propostas a partir da pág. 58).

Presidente da Associação Brasileira de Motociclistas (Abram), Lucas Pimentel enfatizou que o sistema viário do país não foi desenvolvido para um cenário onde a motocicleta é protagonista da frota, como é a tendência atual.

“A norma ASTM (nota-01)e outras que norteiam a construção de vias no mundo foram feitas com base em estudo técnico do comportamento do automóvel, do ônibus e do caminhão, e não o da motocicleta. O DNIT detectou 2.500 pontos de vulnerabilidade a acidente de veículos nas estradas federais. Admitiu isso. As nossas vias não são apropriadas para motocicleta. Sem falarmos de pavimentação e de sinalização, entre outras”, disse Pimentel.

Nota:

01 - ASTM (American Society for Testing and Materials) é uma organização norte-americana que desenvolve e publica normas técnicas para uma ampla gama de materiais, produtos, sistemas e serviços, como as que orientam a construção de estradas e rodovias em dezenas de países do mundo, inclusive o Brasil. Porém, a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), fundada em 1940, é o órgão responsável pela normalização técnica no país.

Para continuar a leitura, clique aqui

Para voltar no início do documento, clique aqui

Para baixar a revista em formato pdf, clique aqui.

palavras-chave: moto, fator, via, qualidade, infraestrutura, segurança