POR VIAS SEGURAS - Associação brasileira de prevenção dos acidentes de trânsito.
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Resgate das vítimas de acidentes de trânsito pelos bombeiros

Exemplo: Atendimento pelo Grupamento de Socorro de Emergência do Corpo de Bombeiros do estado do Rio de Janeiro

Marina Lemle

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Quase um quarto dos atendimentos feitos pelos bombeiros do estado do Rio de Janeiro está relacionado a acidentes de trânsito, segundo dados da Central de Estatísticas de Despacho de Viaturas. No mês de agosto de 2011, por exemplo, do total de 16.393 ocorrências atendidas, 4053 foram causadas por trânsito, sendo 1955 colisões de veículos, 931 atropelamentos, 742 quedas de moto, 233 capotagens e 192 casos de fogo em veículos.

Diante de um cenário de tragédia, é confortante saber que os primeiros-socorros prestados têm padrão de primeiro mundo, oferecendo à população um atendimento capacitado e ágil. Com experiência acumulada desde 1986, o Grupamento de Socorro de Emergência (GSE) do Corpo de Bombeiros do Estado do Rio de Janeiro (CBMERJ) é referência nacional e mundial em atendimento pré-hospitalar, por trabalhar com médicos e enfermeiros nas ambulâncias e pelo tempo de resposta, reconhecido mesmo entre os mais rigorosos padrões de atendimento.

De acordo com o capitão bombeiro Edgar do Carmo, o sistema, importado da França, se destaca principalmente porque a presença do médico viabiliza a administração rápida de medicamentos e o uso dos equipamentos avançados de UTI, como desfibrilador, bomba de oxigênio e cânulas para entubar.

O alerta ao 192 - Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), do Sistema Único de Saúde - ou ao 193 – Bombeiros - pode ser feito pelo próprio acidentado, por uma testemunha do acidente ou por profissionais de outras instituições, como concessionárias de vias ou a Polícia Militar. Após a estratificação de risco da solicitação, é selecionado e enviado o recurso mais adequado a este atendimento. Dependendo da situação, o transporte será feito por ambulância do CBMERJ ou do Samu.

A ação de primeiros-socorros depende da ocorrência. Não existe uma fórmula pronta. Nos eventos de colisão, inicialmente é feita a sinalização da via para evitar novos acidentes e são tomadas medidas de segurança para que o veículo não pegue fogo e permitir a retirada da vítima das ferragens. A principal preocupação nos primeiros-socorros é manter três funções operando: vias aéreas desobstruídas, respiração e circulação sanguínea. O alinhamento e a imobilização da vítima são fundamentais para evitar que um movimento cause lesões secundárias. O capitão Edgar ressalta que pessoas sem treinamento adequado não devem tentar retirar a vítima da posição em que está no veículo nem imobilizá-la.

O diagnóstico passa por diversas avaliações. A primeira é a avaliação da cena, onde se considera o tipo de colisão - se foi traseira, se houve capotagem, se tinha airbag no veículo etc. Posteriormente, são avaliados os sinais vitais da vítima - se está consciente, se respira, se possui circulação sanguínea. Em seguida, é feito um exame corporal rápido para buscar sintomas de lesões e, finalmente, é realizada uma avaliação dos aspectos clínicos de relevância para o melhor atendimento da vítima.

O procedimento do CBMERJ é sempre levar o paciente ao hospital de referência mais próximo do local do evento. Posteriormente, todas as informações ligadas às ocorrências são coletadas, armazenadas e analisadas para gerenciamento do sistema, emissão de documentos, relatórios analíticos e gestão estratégica da informação para ações futuras de planejamento e melhorias.

Segundo o bombeiro, via de regra, há mais acidentes em perímetro urbano. A gravidade das lesões nestes acidentes é menos previsível por causa das muitas variáreis envolvidas: apesar de a velocidade média ser mais baixa, envolve agravantes como estresse, quantidade de veículos, quantidade de pedestres e o desrespeito. Na cidade, entretanto, o tempo de resposta das equipes de socorro é mais rápido, apesar dos engarrafamentos. Fora do perímetro urbano é mais difícil chegar.

A participação do SAMU

O Samu foi instituído em 2004 pelo Ministério da Saúde através do decreto Decreto nº. 5.055. A portaria 2048, de 2009, que aprova o Regulamento do Sistema Único de Saúde, prevê que a coordenação do Samu seja feita pelas prefeituras. Em virtude de um convênio, no município do Rio de Janeiro o CBMERJ é responsável pela coordenação do Samu, mas não nos demais municípios do estado.

Devido ao convênio, na cidade do Rio as ambulâncias dos Bombeiros e do Samu são igualmente equipadas, porque são todas gerenciadas como parte da frota do CBMERJ, apesar de as do Samu serem do SUS.

Capacitação constante

A qualificação é uma das razões de o GSE ser referência mundial, recebendo frequentemente comissões e visitantes que buscam participar de cursos e estudar a forma de operação.

Todos os militares do CBMERJ possuem treinamento de primeiros socorros, mas os que trabalham nas ambulâncias são do quadro da saúde, que é especializado nessas ocorrências. Os médicos, enfermeiros ou técnicos em emergências médicas já são recrutados com formação na área, mas uma vez dentro da Corporação, passam por um calendário anual de instruções e capacitação, com vistas a estarem sempre atualizados.

Há ainda cursos de primeiros socorros abertos ao público, ministrados pelo Centro de Educação Profissional em Atendimento Pré-Hospitalar, com sede em Niterói. A equipe é composta por cerca de quarenta militares, todos profissionais da área de saúde de elevado nível técnico-profissional e especializados na área de Educação. O Cepap oferece cursos de Suporte Básico à Vida, Extricação e Transporte, Cuidados Iniciais em Situações de Urgência, Abordagem Avançada no Trauma, Socorrista, e Especialização para Técnico de Enfermagem em Urgência Pré-hospitalar.

O ano de 2010 foi marcado por um recorde em cursos ministrados pelo CEPAP: foram capacitadas 5148 pessoas, dentre as quais 3754 (72,9%) militares do próprio CBMERJ, 1078 civis (20,9%) e 316 militares de outras forças (6,1%).

Velocidade causa maiores danos

De acordo com o capitão Edgar, há uma associação de probabilidade entre o tipo de acidente e a lesão decorrente dele. Pelo tipo de colisão, sabe-se onde esperar lesões no corpo.

“Existe um padrão esperado, mas a realidade não é tão precisa quanto gostaríamos. Há muitas variáveis envolvidas, como velocidade, absorção de energia cinética pelo corpo da vítima, ocorrência de incêndio, presença de produtos perigosos, como no caso de acidentes com veículos transportadores de combustíveis, comuns em rodovias, o uso ou não de dispositivos de proteção, como cinto de segurança, airbag e capacete em moto, e a própria constituição e condição prévia da vítima - sua idade, proteção muscular e desgaste ósseo”, explica.

Segundo o bombeiro, o maior percentual de acidentes com vítimas está relacionado a velocidade, por causa da intensidade da energia, que aumenta a probabilidade, a gravidade e o número de lesões. Em perímetro urbano, onde os veículos trafegam em velocidade mais baixa, os acidentes que ocorrem não costumam resultar em lesões, ou quando resultam, elas são menos graves.

A direção e a orientação do movimento dos veículos na colisão também são fatores importantes. O impacto frontal costuma ter mais risco, porque na aceleração há o impacto da vítima com a parte anterior da cabine e depois, na desaceleração, há o efeito chicote. Na aceleração, porções mais perigosas do corpo ficam expostas, como a cabeça, o tórax, a pelvis e os joelhos, que batem no vidro, no volante e na parte frontal do veículo. Na desaceleração, o contragolpe é na extremidade oposta - a parte de trás da cabeça. O protetor de cabeça no banco protege contra lesões na cervical. Segundo o capitão Edgar, mais perigoso é o movimento de rotação lateral da cabeça.

O impacto lateral também pode ser muito grave, porque apesar da longarina, que em teoria absorve o impacto, o veículo pode comprimir o tórax da pessoa.

Dispositivos de proteção salvam vidas

O uso de dispositivos de proteção reduz bastante o risco de lesão grave. No caso do cinto, a redução do risco é de 80% em média, dependendo da velocidade da colisão e da posição do cinto. “Em carros, quando a pessoa está usando o cinto na posição correta, muitas vezes não sofre nenhuma lesão. O desuso ou o mal uso é comum em acidentes com lesões graves”, revela. Ele também recomenda fortemente o uso do cinto no banco de trás.

“Hoje, graças a Deus, o cinto traseiro é obrigatório, assim como a cadeira para crianças. É um local onde há o risco de colisão com o banco do motorista e tem mais espaço nas laterais”, explica.

Em ônibus e caminhões, os passageiros também não costumam utilizar cinto, apesar do grande risco a que se expõem, porque mesmo que a velocidade do veículo seja menor, a sua massa é muito maior, aumentando a energia cinética no impacto. Por isso, acidentes com ônibus em estrada costumam ser muito graves.

Motociclistas também são grandes vítimas do próprio descaso com os dispositivos de proteção. O capitão conta que muitos não fecham o capacete, porque só usam para não serem multados. “Numa colisão, o capacete sai voando e o prejudicado é o próprio usuário. É uma questão cultural do brasileiro”, lamenta.

Em relação ao airbag, criticado pela literatura leiga, ele afirma que a experiência mostra que os benefícios suplantam em muito os riscos de lesões adversas. “As críticas não se justificam se o material estiver funcionando adequadamente”, garante.

Saiba mais:

Central de Estatísticas de Despacho de Viaturas

 Grupamento de Socorro de Emergência do Corpo de Bombeiros do Estado do Rio de Janeiro

 Centro de Educação Profissional em Atendimento Pré-Hospitalar

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