Motociclista, como usar os freios corretamente
Todo motociclista consciente deve checar periodicamente o sistema de freios de sua moto. Pastilhas e lonas devem estar sempre em dia, evitando-se usá-las até a “ultima lona”. Da mesma forma, o fluido de freio - para as que possuem freios a disco - deve ser substituído de acordo com o manual do proprietário. As folgas do manete e do pedal devem estar corretas.
Tudo deve estar funcionando perfeitamente, pois o sistema de freios é usado intensamente no dia a dia para as frenagens normais e também pode ser requerido a qualquer momento para uma parada de emergência. Ter o sistema de freios em perfeitas condições e saber usá-lo corretamente é superimportante para a segurança do motociclista.
O que define basicamente a distância de frenagem de uma motocicleta é a velocidade em que você trafega, a capacidade do seu sistema de freios e o acionamento correto do mesmo. Saber frear corretamente uma motocicleta é essencial para a sua segurança. Para as frenagens normais do dia a dia (em piso asfaltado e sem óleo) acione os freios dianteiro e traseiro de forma simultânea e progressiva, ao mesmo tempo em que reduz as marchas. Se for uma frenagem de emergência, acione os comandos com mais força, sem reduzir as marchas (porque obviamente não haverá tempo para isto). As pressões a serem aplicadas no manete e no pedal normalmente são as seguintes: setenta por cento no freio dianteiro e trinta por cento no traseiro. A técnica aqui apresentada se refere aos motociclistas “normais” de rua, tanto no ambiente urbano quanto em rodovias, rodando em velocidade média regulamentar, e não a pilotos profissionais de competição em pista de corrida, cujo procedimento é outro.
Algumas motos sofisticadas possuem um sistema de freios combinados (exemplos: Honda Varadero 1000, Honda CBR 1100 XX), ou seja, pressionando-se apenas um comando (manete ou pedal), os dois sistemas são acionados automaticamente; outras (principalmente as BMW) possuem freios ABS (nota 26) (sistema antibloqueio das rodas), que podem ser combinados ou não.
A exemplo dos automóveis, o freio dianteiro é o que mais segura o veículo, pois numa frenagem o peso do veículo (e dos ocupantes) é deslocado para as rodas dianteiras. No caso das motos, o freio traseiro serve basicamente para evitar a derrapagem lateral (principalmente se a moto não estiver totalmente em linha reta), dar estabilidade e manter a direção, não contribuindo significativamente para diminuir a distância de frenagem. Não se preocupe em acionar mais fortemente o freio dianteiro: ao contrário do que alguns imaginam a motocicleta não irá capotar, e, além disso, a distância de frenagem irá diminuir significativamente. Você já observou que em todas as motos o sistema de freio mais potente está sempre na roda dianteira?
O motociclista deve adaptar-se à motocicleta que vai dirigir e “pegar” a sensibilidade (nota 27) dos comandos de forma que se acionem os freios sem provocar o travamento das rodas (isto se a moto não tiver ABS, por enquanto, a grande maioria delas). Travar as rodas é situação de risco pois o veículo fica incontrolável, provocando derrapagem com provável queda. Ainda que esta não ocorra, a distância de frenagem aumentará sensivelmente. Nas frenagens, enquanto as rodas girarem, a motocicleta estará controlável e freando em menor espaço. Se sentir a iminência de travamento, alivie a pressão no manete. A tendência ao travamento é maior em pisos molhados, sujos, com pedriscos, areia, e com pneus carecas. Por isso é importante o motociclista ter sensibilidade, perceber como a moto reage ao comandar os freios num determinado piso, para a redução adequada da velocidade e no espaço necessário. Ou seja, enquanto o piloto sentir que há aderência pode continuar freando. Só não pode alicatar de vez, exagerando na frenagem. O piloto deve levar sempre em consideração o tipo de piso, sua aderência e a inércia da moto (massa X velocidade). Preste muita atenção nestas variáveis enquanto você pilota e procure praticar bastante para conhecer bem as reações de sua moto.
Em descidas longas ou acentuadas, combine o uso dos freios com o freio- motor, reduzindo as marchas. Procure não acionar os freios de forma continuada, pois eles poderão superaquecer-se diminuindo sua eficiência. Nestas situações, use-os, portanto, de forma intermitente.
Atenção: em baixa velocidade, até 30 km/h, especialmente nas seguintes situações: chegada à bomba de combustível num posto de abastecimento (normalmente com piso de concreto liso e sujeito a óleo derramado); estacionamento da motocicleta na garagem de casa (normalmente de piso cerâmico e liso); pisos com areia fina ou lama; nestas e em outras situações de piso particularmente escorregadios, você deve usar apenas o freio traseiro para evitar o travamento da roda dianteira e uma provável queda. Mas esteja consciente que ao usar somente o freio traseiro o espaço de frenagem vai aumentar em alguns metros, podendo provocar uma colisão se existirem obstáculos à frente. Portanto, fique atento.
Nunca use os freios quando estiver passando dentro de um buraco, mas sim antes de chegar a ele. Ao entrar num buraco, a suspensão dianteira precisa estar com seu curso máximo “disponível” para a absorção do impacto. Outro detalhe com que se deve tomar cuidado é quando estiver passando sobre as faixas pintadas que dividem as pistas ou assinalam travessia de pedestres: sob chuva elas ficam lisas e as frenagens podem provocar derrapagens.
Observe na tabela acima (nota 28) como a distância total de frenagem aumenta significativamente com um pequeno aumento da velocidade. A distância de reação corresponde a distância percorrida pelo piloto desde o momento em que ele detecta o perigo e aciona os freios. A tabela acima foi calculada tendo por base um motociclista “normal” de rua (tempo de reação de um segundo) e não um piloto profissional de competição (reação de meio segundo). Observe a distância de reação percorrida em cada velocidade. Isto faz com que, em muitos casos, ante a iminência do acidente, o piloto nem tenha tempo de acionar os comandos do freio. Por isso o excesso de velocidade tem sido a causa de tantos acidentes.
Como já foi dito antes, a técnica de frear usando os dois freios de forma simultânea e progressiva (70% na dianteira e 30% na traseira) refere-se aos motociclistas normais do dia a dia, rodando em velocidade regulamentar. Em minha opinião, em função das estradas que nós temos no Brasil, com buracos, irregularidades no piso, e tantos outros obstáculos que podem surgir repentinamente à frente do motociclista, considero que a velocidade máxima de segurança é em torno de 120 km/h. Acima disso acho que estamos nos afastando da margem de segurança que sempre devemos manter.
Voltando a técnica de frenagem, para os pilotos das velozes motos superesportivas ou para os pilotos profissionais de competição em um circuito fechado, existe uma técnica diferente de frenagem. Quando a moto roda em alta velocidade, a partir de 200 km/h, a força inercial produzida pela moto (peso X Velocidade) é tão grande que, mesmo que o piloto aplique “toneladas” de força no freio a roda não vai travar. Por isso, nesta situação, no momento da frenagem, o piloto aplica a seguinte técnica: milésimos de segundos antes de entrar com força máxima no freio dianteiro, o piloto aciona o freio traseiro para a moto “assentar” e jogar o peso para a dianteira, em seguida aplica força máxima no freio dianteiro, e assim que a velocidade começa a cair (e também a inércia) ele vai aliviando a pressão para não provocar o travamento das rodas (principalmente a dianteira). Sem usar o expediente de acionar primeiro o freio traseiro, a roda dianteira poderá “sair” por falta da pressão necessária ao “grip”. Esta técnica, repito, só é aplicada em alta velocidade. Ela exige muita sensibilidade do piloto e bastante treino, num lugar seguro, preferencialmente em um autódromo, para evitar acidentes.
O que é importante, numa emergência, independentemente da técnica usada, é acionar o freio com a maior rapidez possível, pois quanto mais rápido você acionar o freio menor será a distância total de frenagem necessária, já que no momento inicial de acionamento você estará percorrendo o maior número de metros por segundo. Mas para isso é importante pilotar com muita atenção, ligado a tudo o que acontece no trânsito para que o tempo de reação aos comandos de parada (ou desvio) seja o menor possível.
Existe uma situação especial em que se deve usar 100% do freio traseiro. Rodando com garupa, especialmente com as superesportivas, em meio ao trânsito pesado, em baixa velocidade, o caroneiro é lançado para cima do piloto a cada freada. Então, nesta situação, para evitar o constante “apoio em suas costas” e manter a namorada “no seu devido lugar” acione somente o freio traseiro para atenuar o problema (haverá menos transferência de massa).
Notas:
26 – O sistema ABS alivia automaticamente a pressão do freio sempre que a roda estiver na iminência de travamento. Em motos equipadas com ABS, o piloto pode “alicatar” os freios que a roda não vai travar, conferindo, dessa forma, grande segurança ao piloto. Pena que custem tão caro.
27 – A pressão a ser aplicada no manete de freio pode variar bastante de uma moto para outra, dependendo da sensibilidade dos comandos.
28 – Fonte: Curso Técnicas de Pilotagem, Paulo Voigt
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