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Médicos alertam novamente para o perigo sobre duas rodas

(Julho 2013) Fórum "Segurança no Trânsito sobre Duas Rodas" realizado no Rio de Janeiro estimula debate com representantes do Ministério da Saúde, de ONGs e de motociclistas

Marina Lemle

Das 83 cirurgias que um cirurgião de crânio fez no ano passado num hospital no Rio de Janeiro, 68 foram em vítimas de acidentes de moto. O testemunho do médico Aziz Chedid Neto, presidente do grupo Assim Saúde, foi dado durante um debate no Forum Segurança no Trânsito sobre Duas Rodas, promovido pela Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia em 11 de julho no Hotel Othon, no Rio de Janeiro. O evento reuniu médicos, gestores da saúde, políticos, representantes de ONGs e motociclistas, que discutiram a urgência de se reduzir a morbimortalidade no trânsito, e em particular, a de motociclistas, que vem crescendo vertiginosamente.

De acordo com o ortopedista Marcos Musafir, diretor do Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia Jamil Haddad (Into), traumas e duas rodas se imbricam: “Quem trabalha em hospital de trauma e emergência se depara com isso: motocicletas, bicicletas elétricas, triciclos e bicicletas. As lesões mais frequentes são de crânio, tórax, coluna e membros. A biomecânica do impacto, que é a distribuição de forças no impacto, determina as lesões que a pessoa terá.”

Musafir ressaltou que todo mundo conhece alguém que já se machucou de moto e fez uma pesquisa com o público no local, que confirmou a afirmação com 100% de concordância. Ele disse ter esperança de que esta Década de Segurança no Trânsito possa alcançar avanços. “Soluções existem, dependem de esforço e vontade”, afirmou. Segundo o médico, a implantação da Lei Seca no Rio de fato diminuiu o número de atendimentos.

Trânsito mata mais que doenças

A coordenadora de Vigilância e Prevenção de Violências e Acidentes do Ministério da Saúde, Marta Silva, explicou que o setor saúde está se articulando com outros setores para enfrentar a morbimortalidade de motociclistas e fazer frente à grande epidemia de mortes no trânsito. Ela lembrou que desde 2004 a Organização Mundial de Saúde aponta o trânsito como um problema de saúde pública e que dados de 2008 mostram que 10 países concentram 62% das mortes, e o Brasil figura em 5o lugar. “É no setor saúde que há grande impacto por internações, sequelas e mortes”, observou, e destacou também os altos custos para a Previdência Social da morbimortalidade relacionada ao índice de motorização.

Segundo Marta, o trânsito mata muito mais do que doenças, sendo a primeira das causas externas na faixa etária de 10 a 14 anos e a segunda em todas as outras. O Ministério da Saúde registrou, em 2011, aproximadamente 43 mil mortes no trânsito. A taxa de mortalidade por cem mil habitantes passou de 19,7 em 2002 para 22,1 em 2011, enquanto no caso de motociclistas, subiu de 2,2 para 5,9.

“Não são números, são pessoas, com famílias e projetos de vida, em plena fase produtiva. Vemos uma diminuição da expectativa de vida de jovens em função dessa acidentalidade”, disse. Ela acrescentou que este aumento é observado em todas as regiões, mas principalmente no Centro-Oeste, Norte e Nordeste, onde moto substitui cavalo, jegue e jumento.

A representante do Ministério da Saúde revelou que cerca de 90% da taxa de ocupação de leitos no SUS são por causas externas, sendo que os acidentes de trânsito somam 16% do total, o que significou em 2012 quase 160 mil internações, que custam, segundo ela, 211 milhões de reais, o triplo que os 79 milhões de dez anos atrás. De todos os internados por acidente de trânsito, quase 80% são do sexo masculino. Os motociclistas foram mais de a metade dos internados: 51,2% ou 81.494.

“Precisamos pensar estratégias para além da proteção individual. Equipamentos previnem a gravidade dos acidentes, mas não os acidentes. Precisamos pensar uma política que tenha sustentabilidade, espaços seguros, transporte coletivo eficiente e promover uma cultura de paz, com ações e metas a curto, médio e longo prazo”, disse.

Entre as iniciativas do Ministério da Saúde, Marta destacou o projeto Vida no Trânsito, que é acompanhado por uma comissão interministerial e visa integrar informações de diversos órgãos para conhecer a magnitude dos acidentes, seus fatores de risco e causas, como a associação de álcool e velocidade, para que se possa planejar a prevenção

Outro desafio para o Ministério da Saúde é garantir atenção integral depois que acidente ocorre, para evitar óbitos. Marta ressaltou a Linha de Cuidados ao Trauma na Rede de Atenção a Urgências e Emergências, na qual o Samu é carro-chefe.

Legislação

Presente ao evento e muito aplaudido, o deputado federal Hugo Leal, presidente da Frente Parlamentar do Trânsito, trouxe dados do Denatran que mostram a evolução da frota de motos: era de 4 milhões em 2000 e, em 2012, chegou a 20 milhões – um crescimento de quase 2 milhões no ano 2012.

“Motos de 50 cilindradas são a maior preocupação no Nordeste hoje. Elas respondem por 30% dos acidentes em Pernambuco. As vítimas são crianças, adolescentes e idosos, segundo dados do Comitê de Prevenção de Acidentes de Moto do estado”, contou.

O deputado lembrou que a Lei 12009 de 29 de julho de 2009 regulamentou a profissão de motofretista e mototaxista. Ele defendeu melhor capacitação dos instrutores e exames práticos “mais realistas e eficientes”, e criticou o fato de não haver isenção de impostos para capacetes e equipamentos de segurança.

Leal contou que tramitam hoje na Câmara dos Deputados 170 projetos de lei sobre segurança no trânsito. “Não adianta mudar a legislação se não tiver aplicação prática”, ponderou. Ele exemplificou com a inspeção veicular, que é importante, prevista, mas não é feita.

Para Leal, a solução também demanda comportamento, mas a sociedade ainda está insensível. “Estamos pregando para convertidos”, lamentou. Para ele, é preciso trazer as vítimas para dentro do debate.

O que temos feito com o quantitativo de 350 mil sequelados por ano? Como ele pode ser um agente esclarecedor? Essa é uma discussão premente, não adianta tapar o sol com a peneira”, enfatizou.

Dados do seguro DPVAT sugerem que, em 2012, o número de mortos chegou a quase 60 mil

O presidente do Observatório Nacional de Segurança Viária - ONSV, José Aurélio Ramalho, mencionou que um levantamento feito pela entidade com base nas indenizações do DPVAT leva ao número de quase 60 mil mortos em acidentes de trânsito em 2012, além de 352.495 vítimas com invalidez permanente, o que representa um aumento de 133% desde 2010 (leia matéria publicada na Veja em 7 de agosto).

Ramalho acrescentou que a frota de motos no Brasil é de 27%, e ocorrem 2 mil mortes de motociclistas por mês. Ele defende o treinamento de motociclistas para que desenvolvam um comportamento seguro e explicou que o Observatório pleiteia a redução de impostos para equipamentos de segurança.

Menos impostos, treinamento, educação e punição

Representando a Federação de Motoclubes do Estado do Rio de Janeiro (FMCRJ), Márcio Guida ressaltou a importância do uso de equipamentos de segurança para motociclistas e também defendeu a redução dos impostos para estes itens. Ele também considera o treinamento em técnicas de pilotagem segura, o bom conhecimento da motocicleta, o respeito à legislação, a educação no trânsito e a prudência fatores fundamentais para a segurança do motociclista.

O jornalista Rodolfo Rigotto, do SOS Estradas, defendeu mais punição para mudar a cultura, principalmente das elites. “Se não punirmos não haverá redução”, disse.

A opinião é compartilhada pelo médico José Sergio Franco, presidente da Sociedade Latino Americana de Ortopedia, coordenador do Fórum Internacional de Traumas no Trânsito. “Precisamos de educação para mudar hábitos e condutas. Mas educação a curto prazo tem que doer no bolso”, afirmou.

Franco apresentou os principais resultados de uma pesquisa sobre percepção dos riscos dos veículos de duas rodas e seu impacto no trânsito, feita entre 28 de junho e 5 de julho no Rio de Janeiro e em São Paulo. A pesquisa mostrou que três quartos dos motociclistas assumiram que seu comportamento é inadequado no trânsito. Falta de concentração é a causa da maioria das quedas e colisões com motos para 60% dos motociclistas entrevistados. A maioria considera que são mal educados e ousados e 54% admitem usar o capacete de forma inadequada.

Essa autocrítica está pedindo ajuda. É como filho, que precisa de limite. Somos educadores, temos uma função. A missão de mudar o comportamento é de todos”, concluiu o médico, que defendeu a realização de campanhas, fiscalização e educação.

Livro Cultura de Segurança no Trânsito – Casos Brasileiros

Após o Fórum, o jornalista e especialista em programas de segurança no trânsito J. Pedro Corrêa lançou o livro Cultura de Segurança no Trânsito – Casos Brasileiros, que mostra como a sociedade está ajudando a melhorar o comportamento no trânsito brasileiro.

“Devemos exigir programas de trânsito. Campanhas são passageiras, programas podem ser eternos. A cultura de trânsito entra nas refeições familiares, nas escolas, nos clubes, em todos os lugares. O mundo diferente não pode ser construído por gente indiferente”, afirmou.

Leia mais:

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Entrevista com Marta Silva,coordenadora de Vigilância e Prevenção de Violências e Acidentes do Ministério da Saúde, sobre o projeto Vida no Trânsito.

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