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Ganhando a vida sobre duas rodas

Categorias que fazem da motocicleta o seu ganha-pão conquistaram a regulamentação profissional em 2009, mas rotina continua marcada pelo perigo e pela insegurança

Artigo publicado pelo Senado na revista « Em discussão », em número especial, com título « Explosão de motos e mortes » de Novembro 2012 (página 22).

De dia, exposto às quedas

Fernando de Paula Assunção, 27 anos, solteiro, nascido em Taguatinga (DF), antes de ser motoboy só trabalhou como feirante. Parou de estudar no ensino médio. Há cinco anos é entregador de uma das maiores redes de lanchonetes da capital.

Trabalha oito horas e em dias de maior movimento pode fazer até 20 viagens. Já caiu três vezes, mas apenas uma delas com maior gravidade (fraturou um braço).

“Quando caí, foi meio culpa minha, meio culpa do motorista. Fazia uma entrega e já estava anoitecendo, por isso o trânsito estava intenso. Tentei passar entre as duas faixas e um dos carros parados saiu de repente e me acertou. O cara deveria ter olhado melhor antes de entrar, mas eu acho que estava a uns 50 quilômetros por hora e os carros, parados. Sempre é arriscado, mas não dá para ficar esperando o tempo todo.”

Para ele, o entregador não tem alternativa a não ser usar o corredor, passar pelas brechas deixadas pelos congestionamentos para não ficar preso no meio dos carros. “é claro que a gente está se arriscando, mas é meio calculado. Com o tempo de moto você aprende a sacar se o motorista perto de você está te vendo ou não. É ficar tentando ver os olhos dele pelo retrovisor, por exemplo.”

Fernando diz que, entre os seus colegas de trabalho, ele é o que caiu menos vezes. Até ri quando lembra que um veterano no serviço já caiu tantas vezes que perdeu a conta. “Onde a gente anda a velocidade é menor. Já vi colegas se machucarem feio, mas em geral o pior é estragar muito a moto e o tempo que se fica sem poder trabalhar”.

Ele acha que muita coisa poderia ser feita para reduzir os acidentes e as mortes com motocicletas, a começar por um treinamento melhor. “Eu vejo muito motoqueiro por aí que nem sabe andar direito e já está fazendo entregas. Não sei não, mas acho que metade da turma que cai poderia ter evitado o acidente”, avalia Fernando.

À noite, fugindo do perigo

Manoel Messias Oliveira Miranda, 40 anos, casado, dois filhos, deixou o Maranhão ainda jovem para tentar a sorte em garimpos de Mato Grosso. A aventura não rendeu muito dinheiro e ele decidiu vir para Brasília, há 11 anos. Com apenas o ensino fundamental, chances de emprego eram escassas e ele decidiu tirar carteira de motociclista para tentar a profissão.

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“O exame aqui é bem rigoroso. Se colocar o pé no chão, já está reprovado. Se não fechar a cinta do capacete no pescoço, não precisa nem montar na moto, também está reprovado. Se deixar a moto morrer, a mesma coisa.”

A oportunidade de trabalhar na Associação dos Motoboys de Quadra de Brasília surgiu há nove anos. A entidade tem cerca de 2 mil associados, que atendem todo o Distrito Federal oferecendo um serviço de vigilância motorizada das ruas e conjuntos dos bairros. O sistema é de contribuição voluntária dos moradores e Manoel diz que consegue ganhar até três salários mínimos por mês. A associação oferece o material de trabalho, mas a manutenção da moto e o combustível são rateados entre os cooperados.

Trabalhando de noite e de madrugada nas quadras, ele fica sossegado. “Me livrando do bandido nas ruas, não tem perigo”, brinca Manoel Messias, que tem uma moto de 125 cilindradas com seis anos de uso.

Ele nunca quis trabalhar com entregas, com medo de acidentes. “O cara tem que andar rápido, o tráfego é complicado, perigoso, violento, principalmente porque o motorista não respeita motoqueiro e o motoqueiro também não respeita o motorista, vive andando no corredor”, explica.

Ele acha que o melhor caminho para aumentar a segurança dos motociclistas é a adoção da motofaixa. Para ele, andar no corredor é muito arriscado, porque além dos pontos cegos dos motoristas nos carros ao redor existem as sinalizações aplicadas sobre as demarcações de faixas, que podem fazer a moto derrapar.

“Só bati uma vez, na traseira de uma van, mas nem me machuquei, só estragou a frente da moto. Não é que eu seja mais cuidadoso, é porque ando pouco no trânsito mesmo. Motociclista vive caindo”, resigna-se.

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