Mortalidade no trânsito no Brasil e nos dez outros países mais povoados do mundo
Entre os países com mais de 100 milhões de habitantes, o Brasil tem o maior índice de mortos no trânsito apesar de ser somente o quarto mais motorizado.
O “Global status report on road safety 2015”, publicado pela OMS em Outubro 2015, fornece dados sobre a segurança do trânsito na maioria dos países do mundo.
O gráfico mostra uma comparação entre o Brasil e os outros países com mais de 100 milhões de habitantes. A comparação é feita:
a partir de três dados: o número anual de mortos no trânsito, o número de habitantes e o número de veículos
através de dois índices: a taxa de motorização (número de veículos por 100 habitantes) e o índice de mortos (número de mortos por 100.000 habitantes)
Cada país com mais de cem milhões de habitantes é representado por um ponto, cujas coordenadas são a taxa de motorização e o índice de mortos. Adicionalmente, o nome do país é acompanhado, entre parênteses, pela sua densidade demográfica, medida pelo número de habitantes por quilômetro quadrado.
Por exemplo, para o Brasil, 40 veículos por 100 habitantes, 23 mortos por 100.000 habitantes e 24 habitantes por quilômetro quadrado.
A densidade demográfica foi incluida neste gráfico para mostrar a grande diversidade dos casos e porque reflete, de certa forma, a densidade da rede a ser mantida e fiscalizada. Quanto maior é o país, menor é a densidade da rede e mais difíceis são a manutenção da infraestrutura e o gerenciamento do trânsito. É uma das dificuldades da redução dos acidentes no Brasil.
Em termos de segurança, o Japão lidera a competição: ele tem, de longe, o menor índice de mortos: 4,7, na frente dos Estados Unidos com 10,7. A comparação destes dois países mostra a importância da dimensão geográfica do país: os japoneses são 127 milhões num território de 378.000 km2 enquanto os 320 milhões de americanos têm 9,7 milhões de km2. O Japão tem 336 habitantes por quilômetro quadrado e os Estados Unidos 33: dez vezes menos.
Veja no quadro a seguir os dados referentes aos onze países.
Voltando ao gráfico acima: no topo, aparece o Brasil, com o maior índice de mortos: 23,4 mortos por 100.000 habitantes, cinco vezes maior que no Japão e 2,2 vezes maior que nos Estados Unidos.
A comparação do Brasil com os Estados Unidos é interessante pois eles têm uma certa semelhança em termos de superfície e de densidade demográfica. Porém, uma grande diferença entre eles é a sua taxa de motorização: 41 veículos por 100 habitantes no Brasil contra 83 nos Estados Unidos.
A evolução da taxa de motorização do Brasil pode ser observada em outro estudo apresentado neste portal, na página: http://www.vias-seguras.com/os_acidentes/estatisticas/indices_de_acidentes_de_transito/indices_de_mortos_no_transito_por_regiao_e_no_pais_de_2002_a_2010
Esta taxa cresce a cada ano e tende a fazer crescer também o índice de mortos no trânsito. O desafio, para o Brasil, é fazer com que a taxa de mortos passe a diminuir apesar do crescimento da frota de veículos.
De modo geral, o crescimento da frota é uma consequência do desenvolvimento econômico. Pode se ter uma ideia da progressão da frota com o crescimento da economia no gráfico abaixo. É parecido com aquele apresentado acima, porém, ao lado do nome de cada país, aparece, entre parênteses, o valor do PIB per capita, em milhares de dólares.
Os países com o menor PIB/capita se situam na esquerda do gráfico. Indo para a direita, aparecem progressivamente os países com PIB/capita maior. O Brasil aparece no meio e os Estados Unidos lideram com o maior PIB per capita e a maior taxa de motorização.
Dá para refletir sobre os esforços consideráveis que terão de ser feitos no Brasil para resistir à pressão do crescimento da frota e conseguir reduzir drasticamente a taxa de mortos no trânsito.
Paul Chambert-Loir