Extratos da pesquisa IPEA 2015: Parte 1: Acidentes e custos
Sumário
Introdução
Panorama geral dos acidentes de trânsito nas rodovias federais brasileiras
Custos dos acidentes de trânsito nas rodovias federais
Políticas públicas: debate e reflexões
Conclusão
Referências, Anexo A, Anexo B
Extratos da Introdução
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Na década passada, o Ipea desenvolveu, conjuntamente com a ANTP e o Denatran, duas pesquisas sobre o tema: Impactos sociais e econômicos dos acidentes de trânsito nas aglomerações urbanas, realizada entre os anos 2001 e 2003, e Impactos sociais e econômicos dos acidentes de trânsito nas rodovias brasileiras, realizada no período de 2004 a 2006. Neste trabalho são apresentados os resultados da atualização dos valores e a análise da evolução dos custos dos acidentes de trânsito nas rodovias federais, ...
…Foi utilizada a base de dados da Polícia Rodoviária Federal (PRF) nos anos 2007, 2010 e 2014 para a realização das análises e cálculos apresentados nas seções 2 e 3 do documento, bem como uma atualização monetária dos custos dos acidentes nas demais rodovias brasileiras. Por fim, são discutidas algumas políticas públicas necessárias para a redução do número de acidentes nas rodovias brasileiras e apresentadas algumas conclusões e recomendações destacadas do trabalho.
Extratos do Capítulo 2: Panorama geral dos acidentes
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Em 2014 ocorreram 169.163 acidentes nas estradas federais fiscalizadas pela PRF, sendo que 8.227 pessoas perderam a vida e cerca de 100 mil ficaram feridos. Pouco mais de um quarto dos feridos teve lesões graves. Nesse ano, 4% dos acidentes apresentaram vítimas fatais; 37%, vítimas feridas; e 59% foram acidentes sem vítimas. Aproximadamente 67% dos acidentes com vítimas fatais ocorreram em zonas rurais, e 23% das mortes foram causadas por excesso de velocidade ou ultrapassagem indevida.
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Os estados do Espírito Santo, de Minas Gerais, do Paraná, do Rio de Janeiro, de Santa Catarina e de São Paulo apresentam os maiores problemas em relação à ocorrência de acidentes de trânsito (tabela 2). A proporção de acidentes e mortes nesses estados é muito maior do que a proporção de rodovias que possuem, indicando uma concentração desses eventos nesses estados.
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Considerando a mortalidade por tipo de acidente (tabela 3), verifica-se que a colisão frontal foi responsável por 33,7% das mortes, seguida pelo atropelamento de pessoas, responsável por 14,6% das mortes. Esses tipos de acidente responderam por 6,5% do total e, embora menos frequentes, foram os mais letais. Nos acidentes do tipo colisão frontal, morreram 40,4 pessoas a cada cem acidentes; e nos do tipo atropelamento de pessoas, 29,1. Chama a atenção também a letalidade dos acidentes do tipo colisão com bicicleta, com 15,4 mortes a cada cem acidentes.
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Focando os dois principais tipos de acidente que geram mais óbitos, pode-se traçar um perfil dessas ocorrências: 89,71% das colisões frontais ocorreram em pistas simples, ocasionando 93,91% dos mortos nesse tipo de acidente; e 71,73% dos atropelamentos de pessoas ocorreram em trechos urbanos, ocasionando 58,47% dos mortos. O período de plena noite concentrou 63,12% das mortes por esse tipo de acidente.
Quando se analisa a principal causa do acidente registrada pela PRF (gráfico 3), verifica-se que a falta de atenção se destaca nos acidentes em geral, com 32,6% dos casos, e no caso dos acidentes com mortes, 20,3%. Velocidade incompatível (13,1%), ultrapassagem indevida (7,8%) e ingestão de álcool (6,5%) também são causas muito frequentes nos acidentes com morte.
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A análise da proporção de ocorrência de acidentes, feridos graves e mortes por modalidade de transporte envolvida (gráfico 4) é um indicativo do grau de severidade dessas modalidades. As motocicletas estiveram envolvidas em 18,3% dos acidentes nas rodovias federais, mas em cerca de 30% das mortes totais havia o envolvimento de pelo menos um desses veículos, assim como em 40,6% dos casos com vítimas com lesões graves. A explicação está associada ao menor grau de proteção que o veículo oferece, já que, em caso de acidente, o usuário fica totalmente exposto a situações de perigo, como quedas e atropelamentos por outros veículos.
Os acidentes de caminhão também apresentam percentuais de vítimas fatais superiores ao percentual de ocorrências desses acidentes, apesar de que as lesões graves são menores proporcionalmente.
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Os indicadores do gráfico 5 também mostram a maior letalidade da motocicleta em relação aos demais modais. Enquanto nos automóveis a cada 8,3 acidentes ocorrem morte ou lesão grave, nas motocicletas esse valor é de 2,9. Da mesma forma, o número de mortes a cada cem acidentes apresenta o maior valor para motocicletas entre as modalidades motorizadas, sendo que essa taxa é quase duas vezes maior do que a observada para os automóveis. Além disso, nos acidentes em que motocicletas estão envolvidas, há cerca de cinco feridos graves para cada vítima fatal, taxa muito superior à das demais modalidades de acordo com os dados mostrados no gráfico 5.
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Em 2014 houve cerca de 2,3 mil mortes em acidentes com envolvimento de pelo menos uma motocicleta, sendo que 44% dessas mortes ocorreram no Nordeste brasileiro. Isso é uma proporção muito maior do que a proporção de acidentes com envolvimento de motocicleta naquela região. Isso é preocupante em função de as maiores taxas de crescimento da frota de motocicleta ocorrerem justamente nos estados do Nordeste (Ipea e ANTP 2013), o que indica que o problema pode ainda se agravar.
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Em relação aos atropelamentos, esses eventos ocorrem com bastante frequência nas rodovias federais, principalmente nos trechos urbanos. Em 2014 houve 4.144 acidentes com atropelamento, com 1.204 mortes e 1.912 feridos graves.
O estado do Paraná registrou 11,7% dos pedestres mortos em acidentes de trânsito nas rodovias federais fiscalizadas pela PRF (anexo A). A região Sudeste registrou 33,1% dos pedestres mortos em acidentes; seguida pelas regiões Nordeste, com 31,4%; Sul, com 23,6%; Centro-Oeste, com 7,8%; e Norte, com 4,3%. Com relação aos atropelamentos, podem-se destacar:
- 51,6% das mortes ocorreram no período noturno, com concentração maior entre os horários de 18h as 20h;
- nos finais de semana (sexta a domingo), morreram 50,8% dos pedestres;
- vinte rodovias concentraram 55% dos pedestres mortos; e A BR-116/SP foi a rodovia com a maior quantidade de pedestres mortos, e a BR-381/SP, a rodovia com a maior quantidade de mortos por mil quilômetros.
O anexo A do trabalho apresenta os gráficos com as principais informações sobre os acidentes de trânsito em rodovia envolvendo atropelamentos. Acidentes envolvendo caminhão estão detalhados no anexo B.
Extratos do Capítulo 3: Custos dos acidentes
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Os cerca de 170 mil acidentes de trânsito ocorridos nas rodovias federais brasileiras no ano de 2014 geraram um custo para a sociedade de R$ 12,3 bilhões, sendo que 64,7% desses custos estavam associados às vítimas dos acidentes, como cuidados com a saúde e perda de produção devido às lesões ou morte, e 34,7% estavam associados aos veículos, como danos materiais e perda de cargas, além dos procedimentos de remoção dos veículos acidentados (tabela 7).
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Analisando os custos separadamente, verifica-se que o maior valor estimado é referente à perda de produção das pessoas (43%), ou seja, quanto de renda uma vítima de trânsito deixa de auferir tanto ao longo do período em que esteja afastada das atividades econômicas quanto, no caso de morte, em relação a sua expectativa de vida. Os impactos da perda de produção recaem sobre a previdência social e também sobre a família, em função de seu empobrecimento. O segundo maior custo é o dano veicular, representando cerca de 30% do total, seguido dos custos hospitalares (20%). O gráfico 9 apresenta os resultados.
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Em média, cada acidente custou à sociedade brasileira R$ 72.705,31, sendo que um acidente envolvendo vítima fatal teve um custo médio de R$ 646.762,94. Esse tipo de acidente respondeu por menos de 5% do total de ocorrências, mas representou cerca de 35% dos custos totais, indicando a necessidade de intensificação das políticas públicas de redução não somente da quantidade dos acidentes, mas também da sua gravidade.
….Quando se compara os custos por modalidade de transporte envolvida nos acidentes, observa-se que os automóveis respondem pela maior parte dos custos dos acidentes em função da maior frota circulante nas rodovias. O percentual de ocorrência de acidentes com esses veículos é superior ao percentual de custo associado a eles. Ao contrário disso, os acidentes com motocicleta representam 18,6% dos acidentes, mas os acidentes com participação desses veículos respondem por mais de um quarto dos custos totais dos acidentes nas rodovias federais. Outro custo expressivo é o dos acidentes em que os caminhões estão envolvidos (44,0%), mesmo com um percentual de ocorrência bem inferior (gráfico 10).
Comentário do portal: para efeito de coerência, recomendamos substituir os valores publicados neste gráfico pelos seguintes:
O custo dos acidentes de trânsito nas rodovias federais teve um crescimento real de 35% quando se comparam os valores calculados em 2007 com os de 2014, sendo que houve uma leve tendência de queda entre os anos de 2010 e 2014, considerando valores constantes de dezembro de 2014 (gráfico 11).
3.5 Estimativa de custos dos acidentes nas rodovias brasileiras
A título de análise exploratória, optou-se por realizar uma atualização simplificada do custo total dos acidentes de trânsito nas rodovias brasileiras com as informações disponíveis. Em função da falta de dados de estados e municípios, adotaram-se três procedimentos de atualização monetária em relação à pesquisa anterior (Ipea, Denatran e ANTP, 2006), e com isso obteve-se uma faixa provável de valor para o ano de 2014.
Para estimar o custo dos acidentes nas rodovias estaduais e municipais, foram utilizados três métodos de atualização dos valores calculados na pesquisa de 2005. O menor valor estimado foi obtido por meio da simples atualização monetária do custo calculado em 2005 pelo IPCA (fator de atualização de 1,6). A atualização e a correção do valor pelo índice de variação dos custos dos acidentes nas rodovias federais entre 2005 e 2014 praticamente deu o mesmo resultado do método de atualização monetária pelo IPCA e correção dos valores pelo índice de variação de mortes de transporte terrestre do Datasus.
Dessa forma, estimou-se neste trabalho que os custos dos acidentes nas rodovias estaduais e municipais se encontram numa faixa de R$ 24,8 bilhões a R$ 30,5 bilhões no ano de 2014. A tabela 9 apresenta os fatores de correção utilizados e os valores dos custos calculados para cada método utilizado.
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De posse das estimativas de custos das rodovias federais, estaduais e municipais, pode-se fazer uma estimativa global dos custos dos acidentes nas rodovias brasileiras. A tabela 10 apresenta um resumo dos custos de acidentes de trânsito estimados no Brasil para o ano de 2014 nas rodovias brasileiras, que, de acordo com as metodologias utilizadas, giram em torno de R$ 40 bilhões por ano.